Vol. 5 (2022): V ENCONTRO ANUAL: ANAIS DA REDE DE PESQUISA EM GOVERNANÇA DA INTERNET

Descrição da edição

Plataformização e datificação na/da Rede: governanças, colonialidades e resistências

Em sua recente obra, Brutalismo, Achille Mbembe aponta a razão digital como o novo mecanismo extrativista de valor, que observa o mundo como um enorme “reservatório a ser exaurido”. Esta racionalidade se inscreve no anseio humano do conhecimento integral, dentro de uma lógica maquínica de produção ininterrupta de fluxos de dados. “Mecanismos computacionais, modelagem algorítmica e a expansão do capital pela totalidade da vida são agora um único processo” (MBEMBE. Brutalismo, 2021, p. 74).

Em 2021, o Banco Mundial publicou o relatório de desenvolvimento, “Dados para uma vida melhor”. De acordo com a instituição, a cadeia de exploração econômica de dados é subutilizada em países pobres e emergentes, dificultando a competitividade e o desenvolvimento destes países. O relatório apresenta-se como um guia para países clientes do Banco Mundial, cujos recursos financeiros tornam-se acessíveis, mediante a adoção de recomendações deste organismo.

Para o banco, a atual economia global de dados exige um novo contrato social que abranja uma Governança de Dados composta pelo desenvolvimento de: i. infraestruturas de dados; ii. políticas, leis e regulamentos sobre dados; iii políticas econômicas relacionadas; iv. e instituições de governança de dados. Embora o relatório destaque o objetivo de horizonte equitativo, é notável a ausência de uma análise que inclua as contradições das relações entre o Norte e o Sul Global, suas desigualdades, e a massiva exploração de dados pelas big techs.

A crítica de Paola Ricaurte a essa racionalidade orientada por dados sugere que há uma dominância epistêmica, caracterizada pela colonização dos nossos de modos de ser, pensar e sentir, sustentada, por sua vez, no que a infraestrutura da Internet provê: “transações, fluxos e interações que convertem qualquer forma de existência em uma possível fonte de dados” (Data Epistemologies, The Coloniality of Power, and Resistance, 2019, p. 351. Livre tradução).

Como a própria autora sugere, a resistência a essas novas formas de dominação passa, então, pela reapropriação das técnicas e pela produção de formas de conhecimento que desafiem a extração e exploração de dados para a acumulação de capital. Como um convite à desobediência epistêmica e ao pensamento provocador, o V Encontro Anual da REDE nos convida a questionar criticamente:

  1. Como a acumulação capitalista baseada na exploração de dados se relaciona com a Internet em suas múltiplas dimensões (técnica, social e de governança)?
  2. Como o colonialismo de dados e as infraestruturas hegemônicas da rede reproduzem diversas formas de desigualdades, tais como as desigualdades raciais, de classe, de gênero, geográficas e geopolíticas?
  3. Em vista da rápida disseminação de tecnologias emergentes baseadas na economia de dados, quais formas de resistências técnico epistêmicas se apresentam ou podem ser construídas?

As questões acima, bem como o foco nos processos de datificação e plataformização da sociedade, são provocações sugeridas pela REDE que podem inspirar os trabalhos submetidos dentro de suas respectivas temáticas e áreas de conhecimento, sejam estas de cunho teórico, técnico ou metodológico.

A Rede de Pesquisa em Governança da Internet (REDE) é uma rede acadêmica autônoma,  multi e transdisciplinar formada por pesquisadoras/es de temas relativos à Governança da Internet, que buscam discutir o plano tecnopolítico da rede e suas consequências técnicas, sociais, econômicas e para políticas públicas.

Nos dias 23 e 24 de novembro de 2022 acontecerá o V Encontro da REDE. O Encontro será realizado no formato online e tem por objetivo consolidar espaços de diálogos e interações entre pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas e níveis de formação, ampliando debates e investigações sobre a Governança da Internet no Brasil. Nesta edição, os debates serão mobilizados a partir do tema Plataformização e datificação na/da Rede: Governanças, colonialidades e resistências.

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